sexta-feira, 20 de abril de 2012

guardei informações dentro
do saco
e abri na rua
a boca  do buraco negro

aranhas formigas e percevejos

o saco tava um saco
de desassossego

estourando peidos
barriga inchada
de sapos e caganeiras

quarta-feira, 30 de março de 2011

águas cheiram nas pitangas
que concentram
diáfanos relâmpagos
quando torcemos
a chuva na camisa.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

encontrei teus olhos no muro
tive de arrancá-los de lá
com a fúria de um tigre
as mãos não fracassaram
e de tuas órbitas vazias
de imediato
nasceram outros olhos
mas de medusa
hoje sou o desenho cego
que você foi enxergando
quando me petrificou

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

saque a caneta
vale a pena vale o poema
vale a vida de um poeta que se foi
vale esse presente que se esvai
vale os pés vale a força
o susto o soco o choro
os papéis rasgados
arremessados pela ânsia
de alcançar com o inútil
o inusitado

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

nessa outra esfera

ele lia um livro de poesia sem poesia
era ali que sua imaginação criava perna
começou subindo escadas de oxigênio
sangrou a testa ao tentar atravessar paredes
e nelas
grafou idiomas que se comunicam com insetos
ele gosta de ver sua imagem distorcida na colher
o amor marca brasa na sua pele.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

como tudo nunca houvera
acontecido
de manchar esta camisa
com a tinta da primavera
a próxima vez
que quiser ler meu pensamento
vai ver uma coisa
letras soltas páginas rasgadas
capítulos sem fim
vírgulas loucas
surpresas e suspiros
tigres de papel
caras de nanquim

só mais uma coisa
já que você vai mesmo ver alguma
que tal olhar pro céu
em vez de olhar pra mim?

Paulo Leminski